Oração de Zacarias
Depois da menção inicial sobre o motivo da redação do Evangelho, Lucas apresenta uma história muito preciosa de um casal, Zacarias e Isabel. Esses dois estavam envolvidos com o serviço à casa do Senhor. Um destaque importante está no fato de que ambos eram tidos como pessoas exemplares. O livro menciona, no entanto, que Isabel não poderia ter filhos, porque era estéril. Não temos nenhum indício que havia tristeza em nenhum dos dois e talvez pela referência de que já estavam avançados em idade poderíamos ter a confirmação de uma vida onde os desafios haviam sido todos superados. Até que somos informados sobre um evento especial que ocorre com Zacarias, quando foi escolhido para proceder suas tarefa como sacerdote naquele ano.
Um anjo apareceu para ele e mencionou que suas orações haviam sido ouvidas. Na fala, o anjo declarou que sua mulher conceberia e daria a luz a um filho e deveriam chamá-lo João. Pensando acerca da razão desta oração ao Senhor, poderíamos conjeturar que Zacarias desejava ser pai e por isso clamava a Deus. Penso, porém, que seria oportuno incluir a consideração da forma como os judeus pensavam a respeito da mulher que era estéril. Isso pode nos fazer avançar ainda mais na compressão do valor deste texto, assim como do teor da oração de Zacarias. Talvez você se lembre de Ana, a mãe de Samuel que, antes dar luz ao profeta, chorava amargurada por acreditar que Deus a havia deixado esquecida. É possível que fosse assim que Isabel responderia a alguém que a perguntasse sobre seu desejo de ser mãe. Mas, diferente do episódio de Ana, não lemos aqui sobre o choro de uma mulher. O que vemos é a oração de um homem. Acredito que não seria nada equivocado pensar que essa oração se voltava diretamente para o alcance de sua mulher. Especialmente porque, para a mulher, dar filhos significava ser assistida, lembrada, favorecida por Deus. Fico pensando em quantos homens oram por suas esposas, entregando-se ao labor da busca por confortá-las mesmo quando a história materializa sua impotência para prover alento diante dos sofrimentos inerentes à vida. Podemos aprender esta lição com Zacarias e é possível que a irrepreensibilidade de Zacarias possa ser atribuída também ao seu comportamento cuidadoso e acolhedor para com sua esposa. Isso se intensifica quando percebemos a Escritura mencionando a grande dádiva que foi dada a mulher, a de ser mãe.
Mas existe algo ainda mais importante que deve ser visto na forma como Deus age na História da Redenção. Pois ao passo que podemos perceber o cuidado deste homem para com sua esposa por meio de uma oração continuada, compreendemos como o Senhor conduz homens ao desempenho de clamores e petições que Ele mesmo deseja tornar real. No caso de Zacarias, o menino que estaria sob seus cuidados seria um instrumento poderoso nas mãos de Deus para o apontamento definitivo para o meio pelo qual o Senhor apresentaria a salvação para o Seu povo. Não se tratava apenas de uma concessão de paternidade ou maternidade ao casal, antes vemos que Deus o conduziu ao clamor que em ultima análise dizia respeito à vontade do próprio Deus para Sua glória.
Quero concluir este texto refletindo que de fato, não temos um registro de nenhum momento onde tomamos conhecimento do teor da oração de Zacarias, mas fiquei pensando em princípios que norteariam esta oração e procurei demonstrá-las em poucas palavras. A ideia é não apenas refletir sobre uma fala de alguém que vive para a glória de Deus, mas que ao enfrentar os dilemas de sua vida, permanece consciente do privilégio de servir ao Deus que não nos deve nada e ainda nos fornece de sua maravilhosa graça. Essa seria uma forma de enxergar as palavras que gostaria de dizer a Deus, caso vivesse algo semelhante a esta família.
Que alegria poder servir ao meu Senhor! Não há nada que eu poderia desejar mais. Eu e minha casa encontramos o privilégio de sermos envoltos ao serviço de Tua casa, Senhor. E nada é mais importante pra mim. Não tenho mais o que buscar, porque o que poderia ser maior que isso? Contudo, sei que um Deus gracioso pode surpreender aos homens. Até mesmo os mais felizes. Tu conheces os sonhos que possuímos internamente, assim como concedes os desejos mais profundos, desde que estejam conformados à tua vontade. Como não te louvar? Como não te ser grato?
Se puderes realizar, pra tua glória será, se não, teu louvor continuará em meus lábios. Pensamos estar velhos, mas o que é a morte ou a vida pra aquele que tem em suas mãos todos os dias da história de um homem? Teu tempo não é o meu tempo. Teu querer e o realizar frustram qualquer impossibilidade. Ao Deus bendito, toda glória, toda honra, todo louvor, toda majestade, todo meu ser, toda minha casa. Sejam para ti todos os meus dias!
Jonatas Bento
M.Div