Mogli e Jesus

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Acabei de assistir pela segunda vez em poucos dias o filme Mogli, o menino lobo.O filme, uma nova atualização de um clássico da Disney, é uma ótima opção de entretenimento. E quem acha que vai se deparar com a mesma narrativa do desenho animado e de versões anteriores vai se surpreender com as nuances distintas de antigos personagens. Diria que o filme está menos infantil e singelo e mais adaptado a um público mais jovem e adulto. Mas o que me chamou a atenção em Mogli é como o personagem que dá nome ao filme encarna bem o tipo comum em várias narrativas. Ele é menino e também lobo, pelo menos em seus comportamentos, e carrega a evidente marca do herói salvador de seu povo, neste caso sua alcateia.

Depois de assistir o filme com a minha primogênita, Beatriz, fiquei pensando como essa lógica se repete. Quantos são os personagens dos quadrinhos e da telona que são humanos e extraterrestres ou são homem e também aranha…ou outra mescla qualquer, que sempre traz sobre sua narrativa o arcabouço temático clássico, e por isso já conhecido,do personagem que é salvador. Os roteiros são variados, mas a necessidade do herói que redime o seu povo está sempre presente. Os superpoderes podem variar, mas há sempre um personagem que se mostra capaz de proteger e trazer esperança aos que naturalmente vão perecer. Na história acima citada, é Mogli que promoverá essa trajetória.

Também pensei, após assistir o filme, como quantas vezes já comentei com os meus alunos de História sobre as narrativas políticas de vários personagens reais que receberam aclamação popular como redentores da massa carente. Muitos no Brasil e em outros países se apresentaram e foram recebidos como salvadores. Chamamos esse fenômeno de messianismo. Um dos mais conhecidos é o Sebastianismo, que se forjou na expectativa mística criada e propagada em Portugal logo após o desaparecimento em batalha de D. Sebastião, no século XVI. Acreditava-se que, mesmo após a morte deste rei, ele retornaria para levar o país a outros apogeus de glórias e conquistas. Também é interessante perceber o que é descrito nos relatos espanhóis acerca de como os povos pré-colombianos aguardavam a chegada de um Deus resgatador…o que acabou facilitando a recepção dos estrangeiros espanhóis, que se tornariam algozes dos povos que aqui já habitavam. Tudo dentro da mesma expectativa de redenção, da chegada de um salvador.

Toda essa estruturação idealizada acerca da necessidade de um salvador, retratada nos quadrinhos, nos filmes e também vivida em vários momentos da historia humana nada mais é do que a essencial e real carência humana após a queda. Foi o próprio Deus que imprimiu em nossos corações e mentes, em Adão e Eva, que precisaríamos de um estranho que viria para nos livrar de nossas aflições. Ele seria dotado de poderes – porque seria ferido em seu calcanhar e suportaria estador, como diz Gênesis 3.15–e que, mesmo ferido, venceria as ameaçadoras forças do mal, pisando na cabeça da serpente– a representação máxima de toda vilania. Esse seria o herói mesclado como na representação de Mogli, Homem-Aranha e Super-Homem, entre outros, mas, neste caso, sua mistura de natureza seria maior do que dos mutantes do X-Men, pois seria revelada em sua singular humanidade divina. Jesus é o salvador esperado e cheio de poderes, que esteve pronto a se sacrificar pelos perdidos. E assim, todos os personagens fictícios ou históricos messiânicos revelam apenas o que no íntimo de nossa mente todos nós sabemos, que, de algum modo, todos precisamos ser resgatados.

Pr. Ilton Sampaio de Araujo

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