Beleza importa, sim!
Sl 8.1: “Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! Pois expuseste nos céus a tua majestade”.
Vivemos em um tempo estranho. Por mais que as pessoas internamente supervalorizem algo, a tendência do “politicamente correto” as leva a negar ou, pelo menos, minimizar a importância disso em suas vidas. Penso especificamente como exemplo desse fenômeno o tratamento que damos à beleza. Nossa sociedade é dominada por um desejo estético (eu diria até exagerado!), mas, quando as pessoas são questionadas, elas afirmam que “Beleza não importa. É mais importante quem a pessoa é por dentro”. Frases desse tipo só servem para mascarar a realidade e o sentimento que está nos corações, uma vez que, se fosse verdadeira, não teríamos o volume assustador de venda de produtos cosméticos, tantas cirurgias estéticas (algumas totalmente desnecessárias, diga-se de passagem…) e uma corrida desenfreada pelo “corpo perfeito”.
Desfeita essa hipocrisia inicial, gostaria de propor que beleza importa, sim! Mas, calma. Antes que você me demonize e abandone a leitura desse texto, peço que tente compreender meu ponto. Obviamente, como um cristão, defendo que a beleza exterior das pessoas não é o seu bem mais valioso. Sabemos que os aspectos interiores, ligados a caráter, sentimentos e vontades, e principalmente os aspectos espirituais são bem mais relevantes quando nos aproximamos de alguém. Não é o contrário disso que estou defendendo aqui. Também não estou defendendo o sentimento vaidoso que leva a um desejo quase insano pela “foto de perfil perfeita” acompanhada pela exposição nas redes sociais. Estou tentando provocar você a pensar que o desejo pela beleza é algo intrínseco e, portanto, inevitável ao ser humano. O problema não está na valorização da beleza ou na busca por ela, mas na versão corrompida pelo pecado que temos desse assunto.
Observe comigo como, desde cedo, somos levados instintivamente ao que é belo. Qual de nós não fica encantado ao olhar um pôr-do-sol e as incontáveis nuances de vermelho que se formam no céu? Qual de nós não reconhece e se alegra com uma sequência harmônica de uma melodia bem entoada em um instrumento musical? Qual de nós nunca se maravilhou ao olhar o céu pontilhado de estrelas em uma noite escura? Qual de nós não se emociona ao contemplar uma bela pintura feita por um hábil artista ou ao ouvir um poema vividamente recitado por um grande poeta? Poderia prosseguir perguntando como não ficarmos surpresos e elevados ao observar os detalhes nas asas de uma borboleta, nas cores de um pequeno peixe que nada entre corais no oceano, no canto dos pássaros ou na força de um felino selvagem. Em todos esses exemplos há uma beleza que nos encanta, que nos faz transcender os aspectos corriqueiros da vida e, mesmo que por um segundo, somos levados à admiração do belo.
De onde vem esse sentimento? De onde vem nosso senso de beleza e bem-estar diante desse cenário? Qual a origem do nosso desejo interior pelo que é belo? O salmista diz que esse sentimento é um reflexo da majestade divina expressa na criação: “Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! Pois expuseste nos céus a tua majestade” (Sl 8.1). É um “eco do Éden” que trazemos dentro dos nossos corações! Veja… Poderíamos viver em um mundo cinza, sem sonoridade, sem harmonia, sem beleza e nem perceberíamos pois estaríamos “presos” em nosso ambiente sem graça. Mas, ao contrário disso, o Senhor nos colocou em um mundo multicolorido, repleto de sons e de música, cercados de beleza por toda a parte. É verdade que nosso pecado tem degradado toda essa maravilhosa experiência que é viver nesse mundo. Por causa dele, perdemos parte do desfrute da criação, vivendo em um mundo caído. Entretanto, mesmo assim, ainda podemos notar as maravilhas da criação a todo instante. Deus continua, apesar do nosso pecado e de estarmos, agora, com nossas vistas turvas, expondo “nos céus [e em toda a criação] a sua majestade”!
Por isso, o salmista pode prosseguir dizendo: “Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos e a lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem que dele te lembres e o filho do homem que o visites?” (Sl 8.3-4). Quando nos comparamos com Deus em todo o resplendor da sua glória, percebemos que somos pequenos e frágeis. Quando olhamos o que a mão divina produziu, notamos como nossos maiores esforços são como rascunhos, desenhos de criança, rabiscos em um papel amassado. Ao olharmos para o criador, através da excelência da sua obra, somos tomados de admiração pela sua beleza! É o que chamamos da revelação natural de Deus. Paulo diz que “os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas” (Rm 1.20).
Não é sem razão que o próprio Deus, com um senso de beleza infinitamente superior ao nosso, no final do sexto dia afirmou que era tudo (e não somente o homem) muito bom: “Viu Deus tudo quanto fizera e eis que era muito bom”! A palavra hebraica traduzida por “bom” também tem a conotação de belo, agradável, encantador, revelando que a criação expressa, mesmo que de forma limitada, a beleza do criador.
Enquanto cristãos, devemos rejeitar os estereótipos pecaminosos de uma “beleza” artificial produzida com intuito comercial, sexual ou idólatra, mas devemos valorizar a beleza da criação, amando cada aspecto dela e reconhecendo nela a imagem de um criador belo e amoroso. Beleza importa, sim! Não o padrão mundano de beleza, mas o deleite na beleza da criação como forma de adoração ao criador.
Que Deus nos encante, a cada dia, com sua beleza e nos deixe maravilhados!
Rodrigo Suhett de Souza