Vivemos um tempo de negação da culpa. Fugimos da ideia de que somos culpados. Em casa procuramos sempre fazer a transferência de nossa culpa. Dissimuladamente, procuramos transferir para a esposa, para os pais ou para nossa história, para o marido e se não encontramos ninguém mais perto, então, culpamos o Estado e qualquer outra pessoa ou aspecto… qualquer um, tudo para ficarmos livres disso! A Psicologia parece apoiar a ideia de que devemos nos desfazer de toda culpa que nos sobrecarrega e sufoca… “coisa da moral judaico-cristã, que só nos faz mal”.

Mas foi o que também fizeram Adão e Eva no Paraíso. Eles se acusaram mutuamente e se esforçaram para não assumirem a culpa. E ao final… Deus pode também ser acusado de ter dado a Adão a mulher que o levou a pecar. Parece que isso está muito bem absorvido em nossa cultura e ninguém parece nunca se assumir culpado dos seus erros e males.

Não por acaso vemos se propagar no evangelicalismo brasileiro algo que parece o Evangelho, mas que se esforça para negar a Bíblia e a verdade de nossa culpabilidade. Não por acaso que cada vez menos ouvimos acerca de nossos pecados, que podem ser, no máximo, chamado de erros. A mensagem triunfalista da teologia da prosperidade e da auto-ajuda se nega a dizer que somos maus e que Deus nos condenará ao inferno, justamente e por nossa culpa.Há uma releitura herética da Bíblia, uma forma  de não contrariar os fiéis, que não querem ouvir falar desse tema. E com isso todos ficam aparentemente confortáveis sem o peso da culpa, que é resultado do que fazemos e somos.

O problema desse engodo é que sem o vislumbre da culpa não há o Evangelho de Cristo, pois ele nos afirma de nossa miséria e de que somos inimigos de Deus. E sem sabermos ou aceitarmos essa nossa realidade nunca seremos alvos da graça de Jesus. Desse modo, não se saberá acerca da paz que excede todo entendimento e do que é ser perdoado. Sem o reconhecimento da culpa não se pode saber o valor da frase “Está consumado!” Porque ali na cruz foi derramado a ira santa de Deus sobre Jesus Cristo, que recebeu o duro golpe do Pai exatamente por nossa culpa.

Portanto, se me constranjo pela minha culpa real e verdadeira, fruto do que eu sou, também posso me alegrar porque na cruz do Calvário o Cristo de Deus recebeu sobre si a sentença de meus pecados, reconciliando-me com o Pai. Agora eu, que nada merecia e mereço, fui tornado justo, por meio daquele que me justificou. Acredite, só isso é Evangelho! Fora disso, o que há é uma nova reorganização religiosa dita evangélica, que visa esvaziar sua culpa, com mensagens agradáveis e adocicadas… enquanto a sua culpa corrói a sua alma, que é ciente de seus pecados, que se acumulam sempre contra Deus,  te afastando da única possibilidade de paz verdadeira… Cristo Jesus!

Pr. Ilton Sampaio de Araujo.